segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Avaliação de Desempenho Docente

1. INTRODUÇÃO

Em qualquer que seja o nível de ensino, discutir a avaliação do desempenho de professores exige, dentre outros aspectos, compreender quais são as características de um bom professor, como será feita a avaliação de seu desempenho, quais devem ser as competências docentes e como se devem construir indicadores justos e confiáveis para avaliar os métodos e critérios.
Segundo Fernandes, D. (2008, p.5) 

 Discussões dessa natureza têm a importante função de abrir espaço para a reflexão e o questionamento a respeito da melhor maneira de se implantar a avaliação de desempenho dos docentes, porque dependendo da forma de como forem praticadas essas avaliações, poderá ser a melhor solução ou o pior entrave para colaborar com a melhoria da qualidade dos sistemas educativos.

Porém, ao reconhecer que para o exercício da atividade é requerida uma série de saberes, novas questões são inevitavelmente colocadas: quais são as competências docentes, como será feita a avaliação do desempenho docente, quais são as características de um bom professor, como construir indicadores justos e confiáveis para avaliar os docentes, que métodos e critérios serão utilizados?

Nesse contexto, para responder, ainda que parcialmente a tais questionamentos, vários pesquisadores da área de educação se empenharam em delinear a avaliação do desempenho docente no exercício de sua atividade, merecendo destaque os estudos realizados por Jean-Marie De Ketele (2010), Jacques Tardif e Caroline Faucher (2010), Fernando Gonçalves (2010) e Maria Palmira Alves, Eusébio Machado (2010), Domingos Fernandes(2008) e Charlotte Danielson (2010).


2. TEORIAS E MÉTODOS USADOS PARA AVALIAR O DESEMPENHO DOCENTE
   
Jean-Marie De Ketele da Universidade Católica de Louvain – La –Neuve salienta que a avaliação dos professores não deve partir apenas da somatória de notas positivas ou negativas (dos professores) porque esse tipo de avaliação tem causado mais efeitos negativos que positivos sobre a qualidade de ensino de um professor já que apenas detecta se houve falhas na atuação do professor.

Por outro lado, a avaliação pautada pelo reconhecimento colabora mais com o desenvolvimento do profissional porque ajuda a orientar regular e certificar a ação do docente em sala de aula. O avaliador acaba atuando como um amigo crítico, um aliado, do professor que o compreende, reconhece e respeita e que colabora para que o docente se conscientize de suas ações e do processo que conduz aos efeitos observados na prática escolar. 



Essa autora propõe o uso de uma série de tabelas para facilitar a avaliação: uma que ajuda na avaliação do professor, exemplificada abaixo para identificar os diferentes tipos de avaliações existentes, outra que ajuda a analisar o caráter sistêmico da avaliação e que envolve a função de cada um dos envolvidos na escola (Alunos, Professor, Colegas, Diretor, Conselheiros e Autoridades regionais ou nacionais), outra tabela que analisa visibilidade, postura de respeito ou invisibilidade, postura de desprezo sobre atos, relação social, estatuto social, produtos, futuro, crenças de base e posturas de avaliação e por fim uma tabela que relaciona o grau de bem estar, satisfação e dos resultados obtidos para os principais envolvidos na educação: professores, alunos, pais e a escola a fim de ajudar a nortear as falhas e os méritos dos envolvidos e refletir sobre as soluções para a melhoria da instituição educacional como um todo.

Tabela de tipos de avaliação:
Tabela de tipos de avaliação: Funções
Andamento
Avaliar para orientar Avaliar para regular (melhorar) Avaliar para certificar
Somativa Professor e conselheiro devem listar prioridades. Professor e conselheiro baseando-se nas notas dos alunos identificam os pontos para melhorar as práticas e um plano de ação. Promoção do professor baseando-se numa nota atribuída.
Descritiva Descrevem-se as necessidades de formação do professor. A partir das respostas dos alunos com dificuldades se detecta novas estratégias para melhorar a atuação do professor. A promoção é fundamentada numa lista de competências e de atitudes do docente.
Hermenêutica O professor e o conselheiro analisam os resultados dos alunos e discutem quais práticas foram mais ou menos promissoras em sala de aula. Procuram fazer um histórico das notas dos alunos para analisar e identificar na história das aprendizagens anteriores para identificar hipóteses de diagnósticos antes de decidir como melhorar o ensino. A promoção é concedida quando o professor implementa o que é necessário para se obter um certificado superior.

Na visão de Ketele, (1986)

“Avaliar consiste em recolher um conjunto de informações pertinentes válidas e fiáveis e em confrontar este conjunto de informações com um conjunto de critérios o qual deve ser coerente com um referencial pertinente para uma tomada de decisão adequada à função visada”.                                                                                                

Segundo Jacques Tardif da Universidade de Sherbrooke de Quebec e Caroline Faucher da Universidade de Montreal consideram que para se avaliar a atividade de um professor deve-se atentar em como este profissional coordena três componentes indispensáveis na atividade docente: o desenvolvimento de competências profissionais específicas da sua formação (formação acadêmica), que é gradual, a apropriação da cultura profissional, aquela que se adquire com o convívio no meio docente, e a construção de uma identidade própria na realização da sua profissão.
De acordo com os autores, a maioria das pesquisas que tratam sobre esse tema na educação, enfatiza as competências profissionais inerentes da sua formação acadêmica, mas ignoram o nível de apropriação da cultura profissional (integração com os demais docentes) e a construção de uma identidade profissional. Os autores relatam que essa dificuldade se deve ao fato de ainda não se encontrar um referencial ou um modelo na área da educação que avalie cada um desses três componentes primordiais de maneiras válidas, verdadeiras e equitativas.
 As avaliações que são normalmente diagnosticadas, segundo eles, são as baseadas na cognição (processo de adquirir um conhecimento), na observação e na interpretação. No final os autores elencam uma série de perguntas pertinentes com a realidade que vivemos hoje na educação tais como: Por que é necessário avaliar a atividade docente? Com que freqüência se deve avaliar o docente? Para se determinar melhor as mudanças docentes deve-se fazer que nível de avaliação? Fraca ou forte? A auto-avaliação e a auto-regulação constantes dos professores reduzem a necessidade de avaliações externas? E alertam para a necessidade de se ponderar quais serão os impactos psicológicos sofridos pelos professores que se submeterem a avaliações em suas atividades docentes.
            Fernando Gonçalves do Centro Universitário de Investigação Educativa da Universidade de Algarves procurou salientar que para avaliar um docente de maneira justa, o avaliador deve em primeiro lugar conhecer e ter uma visão ampla do objeto a ser analisado, (as práticas pedagógicas e didáticas dos professores), saber o que e como observar em aulas, (que competência e que comportamento se deseja observar em sala de aula), e definir quais instrumentos poderão servir de apoio para melhor medir esse desempenho.  Só depois de tudo isso analisado é que a avaliação do trabalho do desempenho docente poderá ocorrer, evitando assim injustiças e juízos errôneos por parte do avaliador.
            De acordo com esse autor, o ideal é que o avaliador consiga entender a dimensão infra-ecológica da aula, permitindo que o professor, que ora é observado e avaliado, também possa explicar as razões da sua própria prática e didática, já que essas razões nem sempre são facilmente captadas por um terceiro. Neste processo o professor tem também o papel de observador e avaliador.
            Desta forma o avaliador pode ter uma visão mais ampla do contexto porque pode vislumbrar a imagem feita pelo próprio professor e as estratégias que envolvem o professor na aula. Só assim o avaliador pode ter competência de escolher o tipo de instrumento que melhor se ajusta na análise e avaliação da aula do professor.
            Maria Palmira Alves e Eusébio Machado do Centro de Investigação em Educação (CIEd) da Universidade de Minho comentam,  quando abordam sobre A Política de Avaliação do Desempenho docente: Desenvolvimento Profissional e Auto-Avaliação, o quanto foi negativo para o desenvolvimento da qualidade da educação permitir o isolamento das atitudes dos professores. Relatam que atividade do professor é bastante complexa porque precisam conciliar diferentes tipos de saberes tais como: ter conhecimento prático e teórico da matéria que leciona; ser político para se posicionar e lidar com alunos e colegas de profissão e ter conhecimento de novas lógicas que colaboram para compor sua prática docente.
            Alguns instrumentos e técnicas de auto-avaliação sobre as práticas docentes podem ser úteis na avaliação do desempenho destes em sala de aula:
1-    Gravação da aula em áudio e vídeo para se avaliar em conjunto a
        atuação do professor.
2-     Avaliação formal das aulas feitas pelos estudantes a partir de
        questionários  e  diários.
3-    Avaliação informal através de perguntas feitas pelos colegas, alunos e avaliadores.
4-    Elaboração de portfólio para mostrar a ação de alunos e professores em sala de aula.
5-    Avaliação da aprendizagem dos alunos a partir de testes e provas.
6-    Avaliação e observação das aulas dos professores, com o intuito de fornecer subsídios para a melhoria das atividades docentes.
7-   A auto e a hetero-confrontação das aulas entre os professores que ministram a mesma disciplina, a fim de compartilhar experiências formais e informais, exercícios, sucessos e angústias.
8-   Auto-reflexão sobre as práticas adotadas através de diários pessoais, planilhas, observações etc.
9-   Formação continuada do docente para que este se atualize e se desenvolva durante o desenrolar da sua profissão.
Já Domingos Fernandes da Universidade de Lisboa, destaca que é preciso melhorar a qualidade do trabalho pedagógico e os sistemas de apoio às aprendizagens dos alunos, já que são tarefas fundamentalmente pensadas, preparadas e postas em prática pelos professores. Segundo ele a avaliação só poderá ser um processo útil e rigoroso na melhoria das competências e desempenho dos professores se o sistema conseguir um equilíbrio entre uma perspectiva de desenvolvimento profissional mais situada e uma perspectiva de responsabilização mais centrada em medidas de desempenho e eficácia.

Ao tecer seus estudos sobre sistemas de avaliação dos professores, Charlotte Danielson da Fundação CESGRANRIO, defende que os sistemas de avaliação dos professores abrangem três principais componentes; Uma definição clara de uma boa prática pedagógica (o que), métodos justos e confiáveis para trazer provas de uma boa prática pedagógica, (como) e avaliadores treinados que saibam fazer julgamentos coerentes baseados nas provas (profissionais competentes).
3.         CONSIDERAÇÕES FINAIS
            Os autores tentaram mostrar como que a escola juntamente com a sociedade, pode fazer a avaliação do desempenho docente?
            Atualmente a sociedade tem pressionado a escola e o governo no sentido de avaliar a competência e a eficácia dos professores a partir dos resultados dos alunos.

É necessário levar em conta que para um avaliador saber examinar o trabalho docente é necessário que conheçam quais são as características de um bom professor, quais são as competências que são esperadas pelos docentes, como será feita a avaliação do desempenho docente e como se podem construir indicadores justos e confiáveis para avaliar os docentes especialmente os métodos e critérios.



Acho necessário que para avaliar a atividade docente se leve em conta um plano de carreira para o professor e que para fazer a avaliação do professor deve-se levar em conta a auto-avaliação do docente, quem será seu avaliador e como que o docente pode melhorar seu próprio desempenho quando não atingir um nível adequado dentro da escola.

Avaliação é um domínio científico e uma prática social cada vez mais indispensável para caracterizar, compreender, divulgar e melhorar uma grande variedade de problemas que afetam as sociedades contemporâneas, tais como a qualidade da educação e do ensino, a prestação de cuidados de saúde, a distribuição de recursos e a pobreza”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário